Futebol
25/05/2011 - 17:54 - Updated 25/05/2011 - 18:03Olivier Bonamici: “Ditadura do tiki-taka”
O comentador de futebol do Eurosport analisa as reacções ao domínio que o Barcelona tem imposto nos últimos anos, recordando que tudo começou com Johan Cruyff.
Eu era muito novo quando o Ajax de Cruyff dominava o futebol europeu, mas pelo menos tive a sorte de ver duas grandes equipas de futebol: o Milão de Sacchi no início dos anos 90 e o Barça de Guardiola.
Não tenho sombra de dúvida que o Barça de Guardiola é uma das melhoras equipas da história do futebol. Confesso que sou um grande admirador do futebol praticado pelo Barça. Quando a equipa catalã eliminou o Real Madrid nas meias-finais o diário L'Équipe escreveu na sua manchete: "A vitória do futebol". Se eu fosse o editor do jornal, não teria tido a ousadia de colocar o mesmo título, no entanto, confesso que o futebol praticado pelo Barça de Guardiola corresponde mais aos meus ideais do que por exemplo o futebol da Grécia do Euro 2004, da França no Mundial 1998 ou ainda do Inter de Mourinho em 2010. Nunca fui um aficionado “culé”, mas sempre fui um adepto do futebol ofensivo e esta equipa de Guardiola inscreve-se na tradição das duas equipas que mais me agradaram nos últimos 30 anos: o Dínamo de Kiev de Lobanovski e o Barça do mestre Johann Cruyff.
NÃO EMBARCO EM TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO
Tenho consciência que o Barcelona de hoje em dia incomoda muita gente. Há muitos que consideram que os catalães foram levados ao colo até à final. É a tal teoria da conspiração para a qual nunca tive paciência. Vale para o futebol e para a política.
Cada vez que oiço a teoria do complô acerca dos atentados do 11 de Setembro ou, por exemplo, neste momento com o caso Dominique Strauss Kahn (ex-director do FMI), mete-me nojo. O mesmo acontece com o futebol. No caso da meia-final entre o Barça e o Real sei que alguns defendem a ideia de que Michel Platini terá influenciado os árbitros. Já agora, porque não também dizer que Obama e o Papa Bento XVI terão ligado ao Platini para ajudar o Barça?
No entanto, entendo que o Barça esteja a irritar tanta gente. Li com muita atenção a crónica de Eduardo Barroso no jornal “A Bola”, onde este se mostrou cansado com o famoso tiki-taka praticado pelos catalães. Esta crónica fez-me recordar o que já li no passado acerca do Lance Armstrong no ciclismo, do Michael Schumacher na Fórmula 1, do Federer no ténis e do Tiger Woods no golfe. Quando alguém domina uma modalidade desportiva começa a irritar muita gente e há cada vez mais pessoas que desejam o fim do ciclo. Apesar de eu ser um grande admirador do Barça, tanto do Cruyff como do Guardiola, não suporto o fanatismo dos adeptos que consideram que todos devem jogar como eles. A riqueza no futebol vale pela sua diversidade, ou seja, ainda bem que todas as equipas não têm a mesma filosofia do jogo do que a equipa azulgrana. Não gostei de uma entrevista de Xavi onde o médio passou a ideia de que as equipas que não têm o mesmo jogo que o Barça não prestavam para nada. Não concordo. Cada um joga com as suas armas, é o caso por exemplo do Manchester United, que tem vários trunfos para vencer na final da Liga dos Campeões.
Sei que em Portugal e em Madrid muitos desejam a derrota do Barça. Pelo meu lado desejo uma vitória do futebol, ou seja, da equipa que fará mais por merecer a vitória. É verdade que a história costuma recordar apenas os vencedores, no entanto, em 1982, hei-de sempre recordar o Brasil de Zico, Sócrates e Falcão, que perdeu contra a minha querida Itália.
Eurosport - Olivier Bonamici
